Exposição Ecos Malês apresenta segundo ato com inclusão de novas obras

Atualização da mostra visa ampliar as narrativas de memória, território e resistência

A exposição Ecos Malês , em cartaz na Casa das Histórias de Salvador, entra, a partir desta terça-feira (18), em uma nova fase, consolidando-se como um espaço vivo de reflexão e transformação. Este segundo ato surge com a inclusão de novas obras, aprofundando questões já apresentadas na mostra e ampliando o debate sobre identidade, história e resistência. A decisão de incorporar essas peças não apenas enriquece a experiência do público, mas também reforça a dinamicidade da exposição, permitindo novas leituras sobre os temas envolvidos. A exposição, em homenagem aos 190 anos da Revolta dos Malês, conta com curadoria de João Victor Guimarães e cocuradoria de Mirella Ferreira, e permanece aberta ao público até o mês de maio.

Entre as principais atualizações, destaca-se a expansão do núcleo Ruas da Revolta , que agora conta com três novas obras de Yan Nicolas, adicionadas à parede que abriga as fotografias de Voltaire Fraga e Pierre Verger. Diferentemente das imagens fotográficas, as peças de Nicholas são desenhos que reforçam a relação entre o corpo e a cidade, trazendo novas camadas interpretativas sobre a presença negra em Salvador.

A memória como espaço de disputa também ganha mais evidência com a obra “Cemitério Reaparecido”, de Silvana Olivieri, que se desdobrou para fora do espaço expositivo. A artista expandiu sua intervenção ao espalhar lambes pela cidade, em muros próximos ao Complexo Pupileira, local onde se encontrava o Cemitério do Campo da Pólvora.

“A obra que está na exposição integra uma série com mais oito ‘lambes’, colados em muros do entorno do Complexo Pupileira, onde está localizado o Cemitério do Campo da Pólvora. Além de fazer o ‘cemitério desaparecido’ finalmente ‘reaparecer’ na cidade, a ação foi uma homenagem aos seus mortos, pelo Dia de Finados – entre eles, ofertas de pessoas que lutaram na Revolta dos Malês. Na exposição Ecos Malês foi a 1a vez que indicamos publicamente o local do cemitério, através de um QR code, que não colocamos nos lambes da rua”, explica Silvana.

Desde a apresentação da exposição, o caso tem ganhado repercussão. A equipe solicita a autorização da Santa Casa de Misericórdia da Bahia – proprietária do Complexo Pupileira – para realizar uma pesquisa arqueológica em busca de humanos remanescentes do antigo cemitério.

Outro nome que se faz ao debate sobre memória e construção histórica é Hal Wildson, artista do Vale do Araguaia, rota da Amazônia legal – Barra do Garças – MT que trabalha a interseção entre documentário e ficção para questionar as narrativas oficiais. Sua obra “Floresta Marginal II ” propõe uma revisão das histórias esquecidas do Brasil por meio do conceito de Re-Utopya , um resgate simbólico da memória ancestral e coletiva.

“A partir da ideia de ‘reflorestamento do imaginário’, meu trabalho reivindica o futuro através das sensações que plantamos no passado. Pensar na construção histórica do Brasil é também pensar em uma nação forjada pela violência do esquecimento. Os projetos de apagamento e as políticas de anistia que alicercem a nossa história são uma ferida aberta longe de cicatrizar”, afirma Wildson.

Além dessas adições, a exposição é reforçada com a chegada de peças que exploram a relação entre sincretismo religioso e identidade. A obra de Antônio Poteiro dialoga diretamente com a obra de Gustavo Moreno, ambas utilizam a técnica de assemblage para criar composições que evoquem a coexistência e os conflitos entre tradições católicas e afro-brasileiras. Uma técnica de montagem também é utilizada por Daniel Jorge, cujas obras expandem a discussão sobre equilíbrio e memória cultural.

Ambiente expositivo

A exposição reúne 114 obras de 48 artistas, além da parceria com o coletivo Arquiteturas da Revolta, para pensar e refletir sobre as influências contemporâneas da luta pela liberdade dos africanos escravizados e libertos em Salvador, durante o século XIX.

A mostra é organizada em três núcleos expositivos – Encontrar, Ruas da Revolta e Inventar (Liberdade e Defesa) – que exploram o contexto histórico da insurreição e seus reflexos na Salvador contemporânea. Cada núcleo aborda um aspecto fundamental da resistência negra e suas formas de reverberação na sociedade, por meio de esculturas, pinturas, fotografias e intervenções, convidando o público a refletir sobre os valores de liberdade, união e luta que marcaram a Revolta dos Malês e que ainda ecoam nos dias atuais.

Ecos Malês conta com assistência de curaria de Ana Clara Nascimento, Breno Silva e David Sol. Coordenação de produção de Leonardo Góis e a expografia é assinada por Gisele de Paula. Uma pesquisa histórica foi realizada por Gabriela Leandro Gaia com auxílio de David Sol.

Artistas divididos por núcleo

Encontrar

Caio Rosa, Gil Scott-Heron, Helen Salomão, Jamile Cazumbá, Luan Gramacho, Luciano Carcará, Pierre Verger, Rafael Ramos, Rona, Voltaire Fraga, Wilson Tibério e Yan Nicolas.

Ruas da Revolta

Ação Cemitério Desaparecido, Diego Crux, Jacopo, Malê Debalê, Mayara Ferrão, Pedro Marighella, Rose Afefé e Ventura Profana.

Inventar (Liberdade e Defesa)

Antônio Pulquério, AZA, Bertô, Caio Rosa, Cipriano, Coletivo Arquiteturas da Revolta, Daniel Jorge, Édson da Luz, Gustavo Moreno, Hal Wildson, Ismael David, Jasi Pereira, João Nascimento, Junaica Barbosa, Karamujinho, Kauam Pereira, Lila Deva, Lucas Cordeiro, Simba e Ventura Profana.

Sobre a Casa das Histórias de Salvador

A Casa das Histórias de Salvador (CHS), equipamento cultural da Prefeitura de Salvador, é o primeiro centro de interpretação do patrimônio no Brasil, que, por meio de reproduções, conteúdos digitais e/ou linguagens interativas e tecnológicas, estimula a reflexão sobre os patrimônios materiais e imateriais da cidade. A CHS é gerenciada pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), por meio de acordo executivo de cooperação internacional.

SERVIÇO

Exposição: Ecos Malês
Local: Casa das Histórias de Salvador
Visitação: Terça a sábado, das 9h às 17h, domingos e feriados, das 10h às 17h (entrada sempre até às 16h)
Endereço: Rua da Bélgica, 2 – Comércio
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) – Venda na bilheteria da Casa das Histórias de Salvador ou na plataforma Sympla / Acesso gratuito às quartas-feiras
Entrada única: Os visitantes também poderão visitar a Galeria Mercado (Subsolo do Mercado Modelo) com o mesmo ingresso.